Como trilhar novos caminhos em superfícies tão sinuosas, onde a temporalidade se desalinha numa certa repetição? Num retorno do recalcado que a metáfora visual poderosa da fita de Möbius evoca.
Essa é uma história da minha infância: ainda no primário, recalquei um medo de uma mão aparentemente preta - eu não sabia que preta, na verdade, era a luva que algum adulto utilizava enquanto fazia movimentos bruscos para assustar as crianças desobedientes na janela da creche. Criança branca, vi o preto como outro - a mão preta de outro ser que eu não conheço. Assustador. A primeira reação foi medo, depois curiosidade, e só quando acessei um real, quase indigesto, foi algo próximo ao entendimento de que o social é determinante na nossa trajetória, entre altos e baixos e todas as vicissitudes de um mundo absurdamente revoltante. Falo e repito também com as mãos. Mas não é bem repetição... porque nem quem caminha, nem o caminho, se mantém igual em alguma fração de tempo para se repetirem.
Esculpida artesanalmente em argila marfim, pintada com esmaltes e queimada em alta temperatura.
